sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Análise do texto "Apólogo"



A borracha e lápis

O lápis e a borracha não são amigos inseparáveis. Disputam o espaço que sempre ocuparam juntos. 
- Eu sou mais importante que você - disse a borracha - porque a cada burrada que você faz eu tenho que ir lá e apagar. Se eu não existisse você estaria com vários problemas.
- Mas se eu não existisse meu bem você também não existiria, pois sem mim você não apagaria nada. Caso eu não errasse, qual seria sua função. Diz o lápis com tom de soberba.
A borracha e o lápis são importantes para alunos e professores, sem a sua existência teríamos que usar sempre caneta e corretivo e isso não seria bom, pois a cada erro cometido teríamos que deixar borrado.
- Sem você borracha teria sempre que ser certinho 3 por 4, sem errar nenhum coisa, seria muito chato. Não vou mais brigar com você.
- Amigos? Diz o lápis.
- É verdade lápis temos que ser parceiros, brigar não é legal. Vamos viver em paz. Conclui a borracha.

A borracha e o lápis são importantes para o dia a dia das pessoas. Se um acaba o outro deixa de existir.

Ketlenn Araújo

Um Apólogo
Machado de Assis

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora?  A senhora não é alfinete, é agulha.  Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa!  Porque coso.  Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você?  Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.  Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?  Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?  Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: 
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. 
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.


ELEMENTOS DA  NARRATIVA
Personagem
Agulha, novela de linha e alfinete da cabeça grande
Lugar
Casa da baronesa
Tempo
Durante o dia
Enredo
A agulha e o novelo de linha disputam para descobrir qual o melhor dos dois.



SEQUÊNCIA DA NARRATIVA
Situação Inicial
Diálogo entre uma agulha e um novelo de linha
Conflito
a briga da agulha com o novelo de linha
Clímax
quando as personagens param  de falar uma com a outra.
Desfecho
o alfinete dá uma lição de moral na agulha.

VOCABULÁRIO
Coser
costurar
Melancolia
tristeza indefinida
Mofar
implicar
Subalternos
inferior
Ínfimo
muito pequeno
Galgos de Diana
batedores que caminham à frente -farejando a caça.



FICHA DO TEXTO
Autor
Machado de Assis
Tipologia
Narração
Gênero
Apólogo
Título
 Apólogo                                                 

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